quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

II capítulo O Google da família recordando passagens de nossa infância, relatou que morávamos em Botafogo e nosso pai colocava em sua camionete, rumo à praia, seis dos, à época, sete filhos, pois o bebê ficava em casa, aos cuidados de nossa mãe. Papai conseguira um cartão do Comandante da Fortaleza de São João nos permitindo frequentá-la. Dentro da área desse Forte na entrada da Baía da Guanabara, há duas praias: uma voltada para dentro da baía e outra, a de fora, perigosa por ser mais batida pelo mar. Na que éramos levados, havia uns barcos ancorados e papai costumava dizer "darei a volta ao barco" e entrava no mar. Nos dias em que mamãe estava conosco, ela a ele se juntava. Quando voltávamos para casa, papai aproveitava para contar histórias de Jesus, Maria, dos apóstolos, a de Daniel na cova dos leões e muitas outras. As idas à praia da Fortaleza São João, na Urca, foram momentos marcantes na nossa infância. Marco existente na Praia de Fora, assinalando o início da cidade do Rio de Janeiro: aí chegou Estácio de Sá em 1565.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Você sabe de onde eu venho? Venho de uma família cristã que, com colaborações dos filhos mais velhos, possuía seu próprio jornal, sempre editado pelo "número 5", que provocava muitas risadas, tendo, por exemplo, criado o termo "bolário", que não era um armário e sim a "antessala" do campo de futebol, e batizado a "sala do cascateio", inaugurada com grande falatório. No terceiro andar, com direito a muitos amigos, os dez irmãos se divertiam, jogando totó, sinuca e ping-pong. Deve ser por isso que, aos setenta e quatro anos, ainda pratico esses esportes com os netos. Lá de cima, descortinava-se o campo, palco de futebol, vôlei, fogueira e até cinema. Tínhamos a ajuda de cozinheira; copeira e arrumadeira; lavadeira e passadeira; babá e da Bebé, que havia sido babá da mamãe. Enquanto esta secretariava nosso pai, zelava pela prole ou preparava deliciosas entradas com figos, creme de leite e presunto; a sobremesa de creme de abacate com um fio de licor de cacau por cima ou ainda a famosa "Torta dos Cardosinhos", Bebé, que ficou conosco até quase o fim de sua vida, ensinava o serviço doméstico a novas ajudantes e, ao final da tarde, subia a escada, levando a roupa passada. Em seguida, ia dormir em seu quarto espaçoso, onde havia um grande rádio. No quarto ao lado, duas outras dormiam em um beliche. Havia ainda o faxineiro e a costureira que dormiam em seus lares. Perto da hora do almoço, lá de cima ouvíamos o som de um sininho, significando que devíamos interromper o que estivéssemos fazendo. Eu, talvez, dando aulas para minhas bonecas. Era assim que eu estudava e, no tempo da decoreba, decorava, em voz alta, o dever de casa, em um corredor mobiliado com algumas cadeiras, destinadas às bonecas, digo, alunas. Se uma delas escorregava, era conduzida ao exímio desenhista de cavalos, o diretor Jorge, fechado no "escritório" ao lado. Os outros irmãos deviam estar jogando "botão" ou, frequentemente em grupos, utilizando para estudos a mesa de ping-pong. Ao segundo toque da campainha, após lavarmos as mãos, deveríamos descer, pois a comida estava servida. Nessa sala, havia uma vitrola e, quando se colocava um disco de Chubby Checker, não me continha e me levantava para dançar twist, feliz da vida. Falando em música, essa era uma família musical. Como bem lembrou Vianney, o Google da família, Luiz, o mais velho, acomodou uma bateria ao lado do piano que tocava muito bem, assim como acordeom, aprendido igualmente pela nossa querida e saudosa Regina. Cristiano manejava o piston. Mais tarde, Tereza tocou violão e, hoje, Cecília tira músicas na flauta. Antes de finalizar, narro o que fiquei sabendo, há pouco tempo: Bruno, um dos filhos do "número 5", mencionado acima, ainda pequenino, após ter visto no Zoológico um hipopótamo, tigres e macacos, descansava em um banco, quando seu pai lhe perguntou de qual bicho mais gostara. - Das formigas. Havia sido seu primeiro contato com elas e ficara fascinado com o intenso trabalho dos insetos carregando folhas e entrando em frestas. Por essa família inesquecível e unida, ficamos marcados, a exemplo dos combatentes brasileiros que, em plena guerra contra os nazistas, em Montes Claros, na Itália, se perguntaram: "Você sabe de onde venho? - Eu vim da Bahia. - Nunca fui à Bahia. - Pois devia..." E foi da vontade de voltar para o aconchego de seus estados de origem que obtiveram forças para prosseguirem e vencerem. Que o tempo não nos roube a recordação de onde viemos, que sejamos gratos pela vida que nos é ofertada diariamente, assim como pela vida passada com uma família bem-humorada, inteligente, lúdica, piadista como o Álvaro, alegre, e poética, como o Marcelo, que ganha sempre nota dez pelos poemas que escreve.

sábado, 18 de setembro de 2021

     O sono vai-se afastando. Gratidão por mais um dia a ser vivido. Ei, volte aqui, não  preciso começar a vivê-lo tão cedo! Mas, é o costume. Levanto-me e lá vou eu, contando os passos, corredor "abaixo", retrocedendo, por um dos costumeiros esquecimentos  desta "adolescência" divertida. O que é bom, pois, segundo o conselho de um médico, temos que dar dez mil passos por dia. Como ainda não comprei o pedômetro, o jeito é ir contando: Um, dois, três,                                                                                                                          four, five, six, seven, eight, nine, ten                                                                                                            e de novo, pra não ficar monótono:                                                                                                              un, deux, trois, quatre, cinq, six, sept, huit, neuf, dix.                                                                                  Por aí vai: da uno a dieci, mudo para o espanhol, o alemão... e  resolvo comprar um pedômetro.

 Disseram-me que não mudamos o passado. Concordo, no entanto, se algo não deu certo, urge fazer com que o presente não o reedite. Pois é no aqui e agora que se forja o futuro, soma do passado com o presente. E é com este que se pavimenta o porvir, se escreve a nossa história.

Enquanto escrevo estas linhas, o dia de amanhã está quase batendo à minha porta, quando o receberei de braços abertos.
Vai ter música animada? Vai.
Vai ter semente plantada? Sim.
Sorrisos e carinho?
Vai.
Visita de filha? Sim.
Saúde e alegria? Vai.
Lampejos brilhantes? Sim.
A ajuda sempre bem-vinda? Espero.
Então, está bom demais. Nem tudo são flores, mas dores de cabeça passam e com paciência tudo se supera.
Esperemos que a semente vingue, que o fruto amadureça, 
que a esperança se renove, 
que o amor permaneça e
que os neurônios continuem a se multiplicar.
Deus nos proteja e ilumine as mentes deste país.

17/9/2021
Angela Medeiros. Kkk.

segunda-feira, 29 de março de 2021

Você sabe de onde eu venho?

 Desde o início desta pandemia, meu filho me disse que a vida nunca mais seria a mesma.

Quão certo ele estava e está!

Mas, você sabe de onde eu venho?

A vida é instável, muda com o vento. Cada época tem suas doçuras e barbáries.

Vim de um lar de três andares, onde em uma de suas duas escadas era afixado e lido o Jornal da Casa. O terceiro piso consistia em um grande salão de jogos,onde se divertiam dez irmãos e seus amigos nas mesa de totó; sinuca e ping-pong,com campeonatos e até me lembro que uma vez fui campeã. Deve ser por isso que adoro ping-pong até hoje, com a idade de 74 anos.Lá de cima descortinava-se o campinho de futebol, onde também jogávamos  voley,  acendíamos fogueiras e até se passou um filme. Sou muito grata pela família unida, inteligente, poética, lúdica, bem humorada, alegre e inesquecível que tive.

Tínhamos a ajuda de uma cozinheira, uma copeira e arrumadeira, uma lavadeira e passadeira, uma babá e uma Bebé, que havia sido babá da mamãe! Enquanto esta secretariava meu pai e zelava pela prole, Bebé, que ficou conosco até quase o fim de sua vida, ensinava o serviço doméstico às, por ventura, novas ajudantes, e subia a escada levando a roupa passada.

Ela dormia em um quarto espaçoso, onde havia um grande rádio e sempre foi por nós estimada.

Duas outras dormiam na cama-beliche de outro quarto.

Havia ainda o faxineiro e a costureira, que dormiam em suas casas.

Perto da hora do almoço, lá de cima, ouvíamos o. som de uma campainha, que significava que devíamos interromper o que estávamos fazendo e lavar as mãos, para no segundo toque, descermos e nos dirigirmos à mesa, pois a comida estava servida. Nessa sala havia uma vitrola e quando se colocava um twist de um disco de Chubby Checker na vitrola, eu não me continha, levantava e dançava, feliz da vida.             

      Soube há algum tempo que o filho do nosso irmão,que era o número cinco na fileira dos filhos e editor do jornal aludido acima,

ainda pequenino, após ter visto hipopótamo, tigres e macacos no Zoológico, descansava em um banco, quando seu pai lhe perguntou de qual bicho gostara mais.

- Das formigas!

Havia sido seu primeiro contato com elas e ficara fascinado com o trabalho intenso da sociedade das formigas, carregando folhinhas e entrando em frestas.

Ficaremos marcados, a exemplo dos combatentes brasileiros que, em plena guerra contra os nazistas em Monte Castello na Itália, se perguntaram:

 "- Você sabe de onde eu venho?

- Eu vim da Bahia.

- Nunca fui à Bahia.

- Pois devia."

E foi da vontade de voltar para o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso e pra onde mais vieram, que tiraram a força necessária para prosseguirem e vencerem.

Que esta pandemia não nos roube a recordação de onde viemos, que sejamos gratos pela vida  passada, pela que nos é ofertada diariamente e que esta praga no mínimo una irmãos confinados, comungando da mesma tristeza e preocupação com suas vidas autoritariamente tolhidas.

 

Angela de Menezes Delgado

 

27/3/2021

sexta-feira, 27 de março de 2020


Vejam o talento dela :

https://www.youtube.com/watch?v=vxaYbQz_RJU


domingo, 22 de março de 2020

  • (Uma tentativa de fazê-los rir, em tempos de coronavírus.)


  • De mel a pior - Fernando Sabbino

  •  - Qual é a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo adequar?
  • - pergunta-me ele ao telefone.
  • - Nós adequamos - respondo com segurança.
  • - Primeira do singular - insiste ele.
  • - Espera lá, deixe ver. Com essa você me pegou.
Arrisco, vacilante:
  • - Eu adéquo?
  • - Não, senhor.
  • - Eu adeqúo? Não pode ser.
  • - E não é mesmo.
  • - Então, como é que é?
  • - Quer dizer que você não sabe?
  • - Deixe de suspense. Diga logo.
  • - Não tem. É verbo defectivo.
  • - E você me telefonou para isso? Verbo defectivo. Tudo bem. Eu não teria
  • mesmo oportunidade de usar esse verbo na primeira pessoa do singular do presente
  • do indicativo. Nunca me adéquo a questões como esta.
  • - Presente do indicativo ou indicativo presente? - é a minha vez de perguntar.
  • No nosso tempo era indicativo presente.
E é a vez dele não saber. Desculpa-se dizendo que andaram mudando
tanto a nomenclatura gramatical, que a gente acaba não sabendo mais nada.
  • - E o verbo delinquir? - torna ele.
  • - Que é que tem o verbo delinquir - quero saber, cauteloso.
  • - A primeira do singular?
  • - Não tem. Também é defectivo.
          Mas ele é teimoso:
  • - E se um criminoso quiser dizer que não delinque mais?
  • - Se usar esse verbo, já delinquiu.
  • - Então me diga uma coisa: você sabe qual é a primeira do singular do verbo parir no
  • indicativo?
  • - Ninguém pare no indicativo.
  • - Pare, e em todos os tempos, meu velho.
  • - Esse, quem não corre o risco de usar sou eu.
  • - Pois então fique sabendo: é simplesmente igual à primeira pessoa do singular do
  • verbo pairar.
  • - Eu pairo?
  • - É isso aí. Uma senhora que tem muitos filhos pode perfeitamente dizer:
  • eu pairo um filho por ano.
  • É a vez dele:
  • - Você sabe qual é o plural de mel?
  • - Já vem você. Mel não tem plural.
  • - Como não tem? Tem até dois.
- E me conta que outro dia um entendido em mel fazia uma preleção
sobre o assunto na televisão. No que saiu do singular para se meter no plural,
quebrou a cara: Acabou falando que existem muitos mels diferentes.
  • - E não existem?
  • - Existem. Mas não mels. Com essa ele se deu mal.
  • - Se deu mel, então.
Era a asa da imbecilidade começando a ruflar aos meus ouvidos:
  • - Ou você vai me dizer que mel também é defectivo?
  • - Perguntei à uma amiga que entende.
  • - De mel?
  • - Não: de plural. Ela confirmou: tanto pode ser méis como meles.
  • Mels é que jamais.
     A esta altura o mentecapto fala mais alto dentro de minha cabeça:
  • - Dos meles, o menor.
  • Como ele não responde, acrescento:
  • - Até logo. Melou o assunto.
E desligo o telefone.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

   Vinícius (em construção)

Ao entrar no quarto, com um exemplar de “Ópera do Poeta e do Bárbaro”, para Ana dá-lo à sua chefe, Vinícius ouviu nossa conversa e o meu comentário de que seu guarda-chuva deveria ficar na bolsa. Ao ver sua mãe de saída para o trabalho, ele pegou o livro, que ela já ia esquecendo, e lho entregou. Feito isso, pegou o guarda-chuva e colocou-o em sua bolsa.     
                      Além de perspicaz, tem um sétimo sentido que o leva a sentir a presença da Ana à distância. Quando estamos fechados em um quarto, e ela mal se aproxima do portão, ele exclama: Mamãe!      
  Outro dia, estávamos, ele e eu, em um supermercado. De repente, ele a chama bem alto. Ao me virar, vejo-a através do vidro, estacionando o carro... Igualmente, se ele está dormindo e ela chega, ele senta-se na cama e diz: Mamãe "agou". O que significa “chegou” em  bebenês.
     Com apenas um ano e onze meses, é extremamente ordeiro. Deixa tudo como encontrou seja um par de sapato juntinho ou qualquer outro objeto explorado por ele, em sua infinita curiosidade.                   
     Ontem, quando cheguei com seu leite, primeiro desligou o celular de sua mãe, onde assistia a um desenho, para depois segurar a mamadeira.
     Outra qualidade dele é a persistência: brincando com um carrinho, colocou-o em um saco plástico. Ao tentar retirá-lo, não conseguia pois o plástico havia se enroscado nas rodas.                                                                 
 – Quer que eu o ajude, perguntei.                                                                                                                                        - Não, eu consigo.                    
Ficou um bom tempo tentando, fazendo força e puxando o plástico daqui e dali, até que triunfou e se abriu em um sorriso  de satisfação consigo próprio.      

      Um dos "presentes" do Natal de 2019.  Vinícius, ça va sans dire.